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Arquitetos: Estúdio Lota
- Área: 60 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Guilherme Uemura
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Fabricantes: Ladrilar
Descrição enviada pela equipe de projeto. O apartamento de 60m2 se localiza no bairro Bela Vista, São Paulo - Brasil, em uma região conformada entre a Rua Frei Caneca, a Avenida Paulista e o Viaduto Plínio de Queirós, e marcada pelo processo de disputa e desigualdade socioeconômica. A inauguração do viaduto em 1970, pelo então prefeito Paulo Maluf, foi parte de uma extensa lista de obras viárias que marcaram sua gestão e promoveram de maneira contundente a segregação socioespacial nos bairros em que foram implantadas. Além do alto impacto sonoro e visual no perímetro dos viadutos, nos baixios é gerado um espaço privado de iluminação, sufocado pela poluição e, frequentemente, degradado. Enquanto a região mais resguardada do viaduto Plínio de Queiroz foi sendo gentrificada com a construção de hospitais, shoppings e comércios, a população menos favorecida socioeconomicamente vem sendo concentrada justamente em seu perímetro.
Inserido nesse processo histórico, em 1973 foi construído o edifício que abriga o foco da nossa intervenção. Projetado pelo arquiteto Fábio Penteado (1929-2011), o edifício se destaca tanto por sua aparência, marcada pelo uso do concreto aparente, quanto pela presença do generoso jardim - originalmente público - instalado no recuo frontal do lote. Por estar localizado no primeiro andar, o apartamento tem algumas características que o diferem das outras unidades: em sua vista predomina a paisagem do jardim que, embora permita a contemplação de uma vegetação exuberante, acaba privando a iluminação natural do apartamento; o quintal, gerado a partir do fosso de iluminação e ventilação do edifício; e a presença de uma parede maciça de concreto, resultante da estrutura de transição entre o pavimento térreo e os demais andares do edifício.
Ao adquirir o imóvel, o proprietário realizou por conta própria uma primeira reforma, que tinha como principal intuito conectar cozinha e sala, permitindo o uso integrado destes espaços e trazendo mais iluminação natural. Neste primeiro momento, ele também investiu na troca do revestimento do piso da cozinha e área de serviço, buscando algo que remetesse à casa de sua avó, com cor terrosa e aparência rústica, e optou pelo uso do ladrilho hidráulico. Como dispunha de verba limitada, fez instalações provisórias na cozinha, e poupou verba para que pudesse concluir a reforma num momento futuro.
Nossa intervenção seria delimitada pelas pré-existências e intenções indicadas a partir desta primeira reforma. A presença da parede de concreto impossibilitava que os demais cômodos do apartamento fossem conectados, dessa forma a cozinha se desenhava como o foco principal do projeto. Concentrando os elementos da cozinha em um único objeto, uma bancada, possibilita-se fluidez e maior incidência de luz natural. A bancada de presença tectônica retoma o uso do ladrilho hidráulico e reforça sua presença no espaço, inserido-o também no eixo vertical e tensionando rústico e contemporâneo. Já a marcenaria tem presença discreta e funciona como um plano de fundo. Além da cozinha, banheiro e lavabo receberam novos revestimentos, louças e metais. Já os demais cômodos - quintal, sala e quarto - passaram por uma intervenção mais sutil, com a renovação da pintura e substituição de luminárias.